Quando o grupo EPTV comprou a antiga Tribuna Impressa de Araraquara, em 2011, ficou claro que seus burocratas não entendiam a cidade. A administração alienígena, mofina e ao mesmo tempo assustadiça, nunca entendeu Araraquara; nunca quis entendê-la; achava que os conceitos que formados sobre Ribeirão Preto — então o novo centro de irradiação da corporação sobre o jornal e onde o grupo já havia adquirido outro jornal tradicional, A Cidade — seriam eficazes.
Araraquara não é uma cidade fácil de compreender. É de tamanho médio, com uma economia igualmente média, condizente com seu tamanho, mas cuja mentalidade é de cidade pequena, para bem e para mal. O araraquarense é bairrista, principalmente o araraquarano — um nome engraçado usado pejorativamente para designar o patriciado. É zeloso da sua cidade, do seu time de futebol, das suas instituições sociais.
A cidade torceu um pouco o nariz quando seu principal veículo impresso caiu na mão de “estrangeiros”. O assunto não passou despercebido pelos centros de poder, do Sexto Andar da Prefeitura aos bancos polidos por nádegas edílicas da Ca-Suco.
No fim das contas, Araraquara aceitou a Tribuna; ou a reaceitou. Afinal, seu quadro de jornalistas era basicamente o mesmo, com gente da terra. O cenário, depois da aceitação, parecia promissor. O principal concorrente, O Imparcial, jornal venerando, mas mal administrado e moribundo, perdia vitalidade e anunciantes. Várias pesquisas davam à Tribuna o primeiro lugar da mídia impressa em Araraquara, inclusive à frente dos jornalões capitalinos.
Parecia que a coisa finalmente andava. O problema, não o principal, mas um dos maiores, foi o medo que a burocracia do grupo mostrava em suas relações com a Administração Pública. O medo de indispor-se com o Poder Público tornou-se a tônica depois de um tempo, o que resultou em alterações em matérias e uma censurinha básica a articulistas. Fique registrado, para que não sejamos injustos, que essas censurinhas eram, na verdade, sugestões, feitas por telefone, de Ribeirão Preto, em um tom paternalista e carinhoso. E outro: era o único jornal realmente idôneo da cidade, não obstante a pusilanimidade administrativa.
A crise finalmente bateu às portas. A Tribuna, mesmo antes da marolinha, já vinha com um quadro enxuto. A foice passou várias vezes pela redação; editorias foram cortadas, o papel encolheu, o número de páginas foi reduzido; até que ficassem uns gatos pingados, a quem, infelizmente, coube a difícil tarefa de apagar as luzes e fechar as portas; estamos em janeiro de 2017, 10 de janeiro.
A estratégia do grupo foi substituir a Tribuna por A Cidade, o jornal de Ribeirão Preto, com uma página dedicada a Araraquara. Apenas para exemplo, usemos a edição de hoje (11/7) para ver como andam as coisas. Não há um anúncio sequer de empresas de Araraquara. Ou seja: a aceitação local é nula, ou próximo disso.
A EPTV não entende Araraquara. Nunca a entendeu e continua não fazendo o menor esforço para entendê-la. Trouxe um jornal de fora, feito por gente de fora, para circular numa cidade extremamente bairrista. A empreitada está fadada ao fracasso: A Cidade foi oferecida no lugar da Tribuna para os assinantes; grande parte deles declinou a oferta. É triste: porque, ao fim e ao cabo, era um bom jornal, além de deixar uma cidade que tem um curso de jornalismo órfã de publicações periódicas com um mínimo aceitável de qualidade. Brevemente estaremos novamente relegados às páginas mal-diagramadas e um pouco sibilinas de O Imparcial. Horácio já nos deixou por escrito como terminam essas cabeçadas: parturiunt montes, nascetur ridiculus mus, ou seja, os montes estão em trabalho de parto: nascerá um rato ridículo.